Samuel Feldberg, professor de relações internacionais, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP), e diretor do Conselho Acadêmico da Stand With Us Brasil, destaca que
se houver um envolvimento do Irã no conflito, isso afetaria "
todo o trânsito de petroleiros no golfo Pérsico, elevando o preço mundial do petróleo".
Os efeitos no preço do petróleo
Um aumento no preço do petróleo, explicam os especialistas, aumenta a pressão inflacionária sobre um todo, uma vez que o produto é uma matéria-prima utilizada em diversas etapas da economia, desde a produção de materiais ao transporte de bens e pessoas, como serviços de transporte público, aviação e a gasolina.
A elevação do preço do barril poderia desfazer algumas das conquistas econômicas alcançadas durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que reduziu a inflação para 4,5%.
Rochlin destaca que, em maio do ano passado, no acumulado de 12 meses, a inflação estava registrando 12%. "Se você olhar por dentro desses números, você vai ver que o impacto do chamado grupo transportes, onde se encontra o item combustíveis, é muito pronunciado, é muito forte", afirmou.
"Então, se a gente vir uma nova escalada no preço do petróleo, é óbvio que a gente vai ver uma coisa muito parecida acontecer."
No entanto, este não parece ser o cenário que se monta. Em 7 de outubro, quando o conflito se agravou, o preço do barril de petróleo brent batia US$ 96 no mercado internacional. Hoje, o produto é negociado a US$ 83, ou seja, houve uma queda.
"Se no final das contas não houver ameaça maior à oferta de petróleo, eu acredito que o impacto pode ser pequeno", afirmou Rochlin.
Desta forma, a situação que se desenha é oposta ao que ocorreu com o início do conflito na Ucrânia, que viu os preços do petróleo mundial em escalada vertiginosa. Rochlin destaca que há uma diferença fundamental entre os dois cenários: a presença de sanções.
"Os países ocidentais levantaram sanções contra a economia russa e entre essas sanções existia exatamente o boicote ao petróleo russo. Na verdade, essa medida se mostrou um efeito colateral que não era esperado, exatamente essa alta [mundial] do preço do petróleo."
E se o conflito se espalhar?
No caso de um envolvimento de maiores atores no conflito, como o Irã, que como Feldberg lembrou, pode acarretar no fechamento do golfo Pérsico, e o preço do petróleo se elevar, o Brasil ainda pode contar com uma solução nas mãos da Petrobras, embora talvez não seja a melhor ideia, aponta Rochlin.
Atualmente a política de preços da Petrobras não possui mais pareamento com o mercado internacional, como era durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, ou seja, mudanças no cenário lá fora não necessariamente afetam o mercado interno.
Isto quer dizer que o impacto poderia ser modulado pela Petrobras, através do controle de preços, que endividaria a empresa, ou de uma política de subsídio do governo.
"Não sei se seria muito inteligente se repetir esse modelo", alerta Rochlin. "No governo Dilma houve o uso do controle do preço dos combustíveis aqui dentro e o resultado disso foi que Petrobras se tornou uma das empresas mais endividadas do mundo."
Possíveis repercussões na economia dos EUA
Outro ponto de preocupação é o efeito que o conflito pode ter em relação à
economia dos Estados Unidos, que promete se envolver no conflito
auxiliando economicamente Israel, o que pode elevar a inflação por lá.
"O que vai fazer com que se aumente taxa de juros, o que no final das contas é ruim para todo mundo, porque taxa de juros mais alta prejudica emprego, prejudica crescimento econômico e não faz ninguém feliz", explicou Rochlin.
Feldberg, contudo, explica que o tamanho da economia israelense é irrelevante perante o tamanho dos EUA e que o auxílio normalmente dado pela nação norte-americana, ao contrário do que muitos pensam, ajuda a estimular a economia americana.
"Não são recursos que são transferidos para Israel, mas sim uma parte de quase US$ 4 bilhões do orçamento que são gastos em indústrias americanas de armamento, portanto, estimulam a economia dos Estados Unidos", afirmou Feldberg.
Diplomacia brasileira será a maior impactada
Para o Brasil, que atualmente ocupa
a presidência do Conselho de Segurança da ONU (CSNU), a maior consequência pode ser diplomática, afirmou Reis. Para o professor de relações internacionais, o país vem tentando uma aproximação de meio termo, mas até esta tem sido rejeitada.
Recentemente, o Brasil viu sua resolução no CSNU, que havia sido criticado
por não condenar o suficiente de ambos os lados, ser rejeitada pelos Estados Unidos, membro permanente e
único país a votar contra.
"As posições estão muito extremadas", disse Reis.
Ainda assim, a ampla adesão ao texto brasileiro é um destaque na visão de Reis.
"Essa proposta teve 12 votos a favor. Veja que o Conselho de Segurança é formado por 15 países. A proposta do Brasil teve 12 votos a favor. Não é pouco. E entre esses 12 estavam os votos da França e do Reino Unido, que apoiaram a proposta brasileira."
Feldberg, contudo, critica a inação das nações da ONU e a proposta brasileira em relação ao conflito.
"A ONU é inútil à diplomacia internacional e este é o modelo que o Brasil segue."