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'Dimensão global do problema' pode fazer com que Brasil seja afetado pela guerra em Israel

Uma escalada do conflito entre Israel e Hamas pode levar a problemas em toda economia mundial, como aumento no preço do petróleo e da pressão inflacionária, revertendo alguns dos avanços econômicos conquistados pelos Brasil neste ano, afirmaram especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.

31/10/2023 às 09h56
Por: Redação Fonte: Sputnik Brasil
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© AP Photo / David Cliff
© AP Photo / David Cliff
Em entrevista ao Jabuticaba Sem Caroçopodcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Thaiana de Oliveira e Maurício Bastos, especialistas foram ouvidos quanto às possíveis implicações para o Brasil do conflito entre Israel e Hamas, sejam elas econômicas ou diplomáticas.
 
Para Mauro Rochlin, economista e coordenador do MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV), a "dimensão global que o problema assume faz com que o Brasil seja eventualmente impactado pela guerra", no entanto, o efeito na economia brasileira vai ser indireto, uma vez que o país tem relações comerciais muito pequenas com Israel.
Felipe Reis, professor e coordenador do curso de relações internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), concorda com Rochlin, destacando que, apesar de não ter dados, comercializar com a Palestina é muito difícil uma vez que os seus territórios são controlados por Israel.
 

"Todo comércio da Palestina passa através de Israel, porque os palestinos não têm possibilidade de determinar as suas relações exteriores", disse Reis.

"Agora, indiretamente, o conflito pode atingir a economia brasileira uma vez que os envolvidos são países produtores de petróleo", disse Rochlin, se referindo a nações como Qatar, Arábia Saudita e Irã, que estão no entorno da região.
Samuel Feldberg, professor de relações internacionais, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP), e diretor do Conselho Acadêmico da Stand With Us Brasil, destaca que se houver um envolvimento do Irã no conflito, isso afetaria "todo o trânsito de petroleiros no golfo Pérsico, elevando o preço mundial do petróleo".
 

Os efeitos no preço do petróleo

Um aumento no preço do petróleo, explicam os especialistas, aumenta a pressão inflacionária sobre um todo, uma vez que o produto é uma matéria-prima utilizada em diversas etapas da economia, desde a produção de materiais ao transporte de bens e pessoas, como serviços de transporte público, aviação e a gasolina.
A elevação do preço do barril poderia desfazer algumas das conquistas econômicas alcançadas durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que reduziu a inflação para 4,5%.
Rochlin destaca que, em maio do ano passado, no acumulado de 12 meses, a inflação estava registrando 12%. "Se você olhar por dentro desses números, você vai ver que o impacto do chamado grupo transportes, onde se encontra o item combustíveis, é muito pronunciado, é muito forte", afirmou.
 

"Então, se a gente vir uma nova escalada no preço do petróleo, é óbvio que a gente vai ver uma coisa muito parecida acontecer."

No entanto, este não parece ser o cenário que se monta. Em 7 de outubro, quando o conflito se agravou, o preço do barril de petróleo brent batia US$ 96 no mercado internacional. Hoje, o produto é negociado a US$ 83, ou seja, houve uma queda.
"Se no final das contas não houver ameaça maior à oferta de petróleo, eu acredito que o impacto pode ser pequeno", afirmou Rochlin.
 
Desta forma, a situação que se desenha é oposta ao que ocorreu com o início do conflito na Ucrânia, que viu os preços do petróleo mundial em escalada vertiginosa. Rochlin destaca que há uma diferença fundamental entre os dois cenários: a presença de sanções.
 

"Os países ocidentais levantaram sanções contra a economia russa e entre essas sanções existia exatamente o boicote ao petróleo russo. Na verdade, essa medida se mostrou um efeito colateral que não era esperado, exatamente essa alta [mundial] do preço do petróleo."

E se o conflito se espalhar?

No caso de um envolvimento de maiores atores no conflito, como o Irã, que como Feldberg lembrou, pode acarretar no fechamento do golfo Pérsico, e o preço do petróleo se elevar, o Brasil ainda pode contar com uma solução nas mãos da Petrobras, embora talvez não seja a melhor ideia, aponta Rochlin.
Atualmente a política de preços da Petrobras não possui mais pareamento com o mercado internacional, como era durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, ou seja, mudanças no cenário lá fora não necessariamente afetam o mercado interno.
 
Isto quer dizer que o impacto poderia ser modulado pela Petrobras, através do controle de preços, que endividaria a empresa, ou de uma política de subsídio do governo.
 

"Não sei se seria muito inteligente se repetir esse modelo", alerta Rochlin. "No governo Dilma houve o uso do controle do preço dos combustíveis aqui dentro e o resultado disso foi que Petrobras se tornou uma das empresas mais endividadas do mundo."

Possíveis repercussões na economia dos EUA

Outro ponto de preocupação é o efeito que o conflito pode ter em relação à economia dos Estados Unidos, que promete se envolver no conflito auxiliando economicamente Israel, o que pode elevar a inflação por lá.
"O que vai fazer com que se aumente taxa de juros, o que no final das contas é ruim para todo mundo, porque taxa de juros mais alta prejudica empregoprejudica crescimento econômico e não faz ninguém feliz", explicou Rochlin.
Feldberg, contudo, explica que o tamanho da economia israelense é irrelevante perante o tamanho dos EUA e que o auxílio normalmente dado pela nação norte-americana, ao contrário do que muitos pensam, ajuda a estimular a economia americana.
 
"Não são recursos que são transferidos para Israel, mas sim uma parte de quase US$ 4 bilhões do orçamento que são gastos em indústrias americanas de armamento, portanto, estimulam a economia dos Estados Unidos", afirmou Feldberg.

Diplomacia brasileira será a maior impactada

Para o Brasil, que atualmente ocupa a presidência do Conselho de Segurança da ONU (CSNU), a maior consequência pode ser diplomática, afirmou Reis. Para o professor de relações internacionais, o país vem tentando uma aproximação de meio termo, mas até esta tem sido rejeitada.
Recentemente, o Brasil viu sua resolução no CSNU, que havia sido criticado por não condenar o suficiente de ambos os lados, ser rejeitada pelos Estados Unidos, membro permanente e único país a votar contra.
"As posições estão muito extremadas", disse Reis.
 
Ainda assim, a ampla adesão ao texto brasileiro é um destaque na visão de Reis.
"Essa proposta teve 12 votos a favor. Veja que o Conselho de Segurança é formado por 15 países. A proposta do Brasil teve 12 votos a favor. Não é pouco. E entre esses 12 estavam os votos da França e do Reino Unido, que apoiaram a proposta brasileira."
Feldberg, contudo, critica a inação das nações da ONU e a proposta brasileira em relação ao conflito.
 

"A ONU é inútil à diplomacia internacional e este é o modelo que o Brasil segue."

 
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