Professor de Politicas Públicas e sociólogo pela UERJ, Samuel Braun, em longa postagem no X, antigo Twitter, neste domingo (15) afirma que o "projeto sionista" é incompatível com "um mundo mais igualitário, pacífico e plural" e classifica Israel como um "proxy imperial permanente do hegemon".
Israel é, segundo Braun, uma "agência estadunidense, um grupo político com status de Estado que não tem razão de existir fora do devir imperialista".
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Há uma semana tenho dedicado 100% do meu tempo pra denunciar o apartheid e o genocidio. Com ascendência judia-alemã, sei qual lado estarei nas páginas da história. Quero agora destacar, pra quem ainda se interesse em refletir, sobre duas consequências do que está acontecendo:
1) A divisão geopolítica cada vez mais clara;
2) O backlash antissionista.
2. A percepção de Israel como proxy imperialista é o esgotamento de décadas de todos os recursos narrativos de interdição da crítica. A cada atrocidade cometida por Israel, ao invés de responder pelo ato, antecipa-se como vítima eterna, com salvo-conduto para qualquer barbárie. As violentas repressões internacionais contra atos em defesa dos palestinos esgarça a credibilidade do discurso de defesa dos direitos humanos e da democracia, expondo serem farsa que vale apenas para brancos, loiros, com sobrenome europeizado e fiéis aos EUA. O horror da animalização do inimigo, a crueldade da violência étnica, a banalização do massacre, da tortura e da morte, a ponto de esmagar até os símbolos das instituições ocidentais que fiquem pelo caminho, isso ultrapassa até a melhor capacidade de propaganda ocidental. Como toda tentativa de insistir em algo obviamente mentiroso, fingir que Israel não está praticando apartheid e genocídio e forçar que ninguém questione tamanha desumanidade extrapola os limites de cada vez mais pessoas ao redor do mundo. Isso é perigoso para os próprios sionistas. Com o passar do tempo as caricaturas se apagam, seus propagadores são obrigados a se retrair. A caricatura antissemita vinha sendo cada vez mais suprimida. Mas avivar um personagem tão repulsivo (porque cruel, desumano e intolerante à crítica) dá novo impulso ao retrato caricatural. Ao abandonarem a busca da legítima existência pacífica e respeitosa - o que requer reconhecer a colonização forçada da Palestina e as décadas de massacre, e abrir-se à uma composição justa - judeus na Palestina convertem-se em sionistas: movimento já relatado na ONU por apartheid
Contra um movimento de apartheid podem se levantar duas oposições: à esquerda ações como o Movimento BDS, que com adesão de Estados nacionais, minam o futuro do sionismo. À direita, ações que mimetizem a segregação do apartheid e levem aos judeus o que eles tem legado aos palestinos. É inadiável que essa reflexão seja feita por todos aqueles que ainda estejam paralisados diante do horror praticado diariamente em Gaza. E ao dizer isso, sei que prontamente será pensado “e o terror do Hamas?”. E é sobre esse tipo de resposta que estou aqui alertando. Não cola mais. A comunidade judaica precisa pôr em análise o sionismo. Tratar como tabu e entronizar como direito inalienável um movimento de imposição baseado em raça e etnia, que leva a cabo apartheid e genocídio, não terminará longe, cedo ou tarde, de backlash político e racial.
Como não membro da comunidade, só me resta (1) torcer para que os membros façam essas reflexões e ajam para combater o sionismo, em defesa do direito à vida e dignidade humana de palestinos e judeus, e (2) apoiar a oposição de esquerda ao sionismo: o BDS.
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