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'Projeto sionista' é incompatível com "um mundo mais igualitário, pacífico e plural", diz professor

Israel não passa de uma "agência estadunidense, um grupo político com status de Estado que não tem razão de existir fora do devir imperialista", afirma Samuel Braun

16/10/2023 às 07h04
Por: Redação Fonte: Brasil247
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 (Foto: Reuters/Lisi Niesner)
(Foto: Reuters/Lisi Niesner)

Professor de Politicas Públicas e sociólogo pela UERJ, Samuel Braun, em longa postagem no X, antigo Twitter, neste domingo (15) afirma que o "projeto sionista" é incompatível com "um mundo mais igualitário, pacífico e plural" e classifica Israel como um "proxy imperial permanente do hegemon".

Israel é, segundo Braun, uma "agência estadunidense, um grupo político com status de Estado que não tem razão de existir fora do devir imperialista".

Leia:

Há uma semana tenho dedicado 100% do meu tempo pra denunciar o apartheid e o genocidio. Com ascendência judia-alemã, sei qual lado estarei nas páginas da história. Quero agora destacar, pra quem ainda se interesse em refletir, sobre duas consequências do que está acontecendo:

1) A divisão geopolítica cada vez mais clara;

2) O backlash antissionista.

  1. A reunião do mesmo lado (de Israel e contra a Palestina) dos mesmos que perfilaram do lado de Kiev contra Donbass (e depois contra a Rússia) deixa evidente um lado Otan anti-Oriente. Israel foi uma colônia criada pelo Reino Unido, em parceria com EUA e parte da Europa, transformada em base avançada no Oriente Médio. Uma base não só militar, mas étnica, cultural. A Otan e o G7 são as instituições que melhor representam esse bloco de poder. Nesse diapasão, a esquerda em todo o mundo pode perceber, mais nítido que nunca, a incompatibilidade do projeto sionista com o objetivo de um mundo mais igualitário, pacífico e plural. Israel é um proxy imperial permanente do hegemon, e suas contradições não são mais disfarçáveis. Se a condição de proxy temporário da Ucrânia já estava bem delineada, Israel dá agora significativo passo em representar, para o Sul Global, aquilo que há décadas já é evidente para o Oriente Médio. Qualquer equidistância se torna insustentável doravante. Ou seja, para a esquerda, no Sul Global, Israel rompe qualquer tom de cinza por anos semeado por “sionistas de esquerda” (SIC). À Israel resta a figura diminuída de uma agência estadunidense, um grupo político com status de Estado que não tem razão de existir fora do devir imperialista. A persistência na adesão à Israel tende a explicitar ainda mais as contradições da coexistência de setores liberais nas organizações de esquerda. O chamado “progressismo”, anti-classista e invariavelmente imperialista, será desnudado em suas próprias teses. Ora, se seu pertencimento à esquerda - que não passa de aliados dos opressores entre os oprimidos - se deve exclusivamente à defesa da igualdade entre indivíduos, cínica pois formalista e ignorando toda a dimensão material, perfilar ao lado de apartheid desnuda a hipocrisia.

2. A percepção de Israel como proxy imperialista é o esgotamento de décadas de todos os recursos narrativos de interdição da crítica. A cada atrocidade cometida por Israel, ao invés de responder pelo ato, antecipa-se como vítima eterna, com salvo-conduto para qualquer barbárie. As violentas repressões internacionais contra atos em defesa dos palestinos esgarça a credibilidade do discurso de defesa dos direitos humanos e da democracia, expondo serem farsa que vale apenas para brancos, loiros, com sobrenome europeizado e fiéis aos EUA. O horror da animalização do inimigo, a crueldade da violência étnica, a banalização do massacre, da tortura e da morte, a ponto de esmagar até os símbolos das instituições ocidentais que fiquem pelo caminho, isso ultrapassa até a melhor capacidade de propaganda ocidental. Como toda tentativa de insistir em algo obviamente mentiroso, fingir que Israel não está praticando apartheid e genocídio e forçar que ninguém questione tamanha desumanidade extrapola os limites de cada vez mais pessoas ao redor do mundo. Isso é perigoso para os próprios sionistas. Com o passar do tempo as caricaturas se apagam, seus propagadores são obrigados a se retrair. A caricatura antissemita vinha sendo cada vez mais suprimida. Mas avivar um personagem tão repulsivo (porque cruel, desumano e intolerante à crítica) dá novo impulso ao retrato caricatural. Ao abandonarem a busca da legítima existência pacífica e respeitosa - o que requer reconhecer a colonização forçada da Palestina e as décadas de massacre, e abrir-se à uma composição justa - judeus na Palestina convertem-se em sionistas: movimento já relatado na ONU por apartheid

Contra um movimento de apartheid podem se levantar duas oposições: à esquerda ações como o Movimento BDS, que com adesão de Estados nacionais, minam o futuro do sionismo. À direita, ações que mimetizem a segregação do apartheid e levem aos judeus o que eles tem legado aos palestinos. É inadiável que essa reflexão seja feita por todos aqueles que ainda estejam paralisados diante do horror praticado diariamente em Gaza. E ao dizer isso, sei que prontamente será pensado “e o terror do Hamas?”. E é sobre esse tipo de resposta que estou aqui alertando. Não cola mais. A comunidade judaica precisa pôr em análise o sionismo. Tratar como tabu e entronizar como direito inalienável um movimento de imposição baseado em raça e etnia, que leva a cabo apartheid e genocídio, não terminará longe, cedo ou tarde, de backlash político e racial.

Como não membro da comunidade, só me resta (1) torcer para que os membros façam essas reflexões e ajam para combater o sionismo, em defesa do direito à vida e dignidade humana de palestinos e judeus, e (2) apoiar a oposição de esquerda ao sionismo: o BDS.

 

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