
A liberação do uso de notas de edições anteriores do Enem no Sisu tende a acirrar a disputa por vagas nos cursos mais visados. A mudança permite que candidatos utilizem resultados antigos para concorrer com as notas da edição deste ano do exame, marcado para os próximos dois domingos. Pesquisadores avaliam que a medida pode ajudar a preencher vagas ociosas, mas tende a aumentar a evasão de recém-aprovados e opõe veteranos e estreantes.
Neste ano, 4,8 milhões de alunos vão concorrer, sendo 1,8 milhão do 3º ano do ensino médio. Este grupo afirma ter sido prejudicado — concorrerá com apenas uma nota, contra até três de outros candidatos. No Sisu 2026, serão aceitos os resultados do Enem 2023, 2024 e 2025.
Um abaixo-assinado on-line reúne mais de 27 mil assinaturas contra a medida. “Ao permitir o uso das notas dos três últimos anos, estaremos abrindo espaço para que aqueles com mais recursos tenham maior vantagem”, diz o texto de Ana Amelia Lima, criadora da petição.
Outros alunos reclamam do aumento da concorrência. Para o estatístico Frederico Torres, mestre pela UnB e criador do curso Mente Matemática, cursos de baixa concorrência não devem ser afetados, mas os mais visados, como Medicina, devem ficar mais concorridos.
Há preocupação quanto à comparabilidade entre provas. Segundo Torres, a TRI permite “em tese” comparar edições distintas, mas é preciso acompanhar os exames ano a ano. “Em 2023 e 2024, as provas foram relativamente parecidas. Mas tenho ressalvas sobre fazer essa comparação todo ano. Em 2021, o resultado foi muito diferente dos últimos cinco anos”, afirma. De acordo com o MEC, a comparabilidade entre edições é determinada pelos pré-testes nacionais da TRI.
Candidatos veteranos receberam bem as novas regras. Quem está inscrito novamente poderá encarar o exame com menos pressão e ganhar segunda chance de competir. É o caso de Pedro Alvarenga (Itaquaquecetuba–SP), aprovado para a Unifesp no ano passado, mas que não pôde se matricular por dificuldades financeiras. Com a nova regra, ele tentará nova vaga.
Em 2024, o Sisu ofereceu 264 mil vagas; 23 mil não tiveram concorrentes na primeira seleção — concentradas no Nordeste e Sudeste, sendo 40% de Licenciaturas. Com mais candidatos, Torres avalia menos chances de ociosidade, mas especialistas temem maior evasão. Pesquisa da economista Andréa Cabello (UnB) mostra que metade dos ingressantes pelo Sisu evade, enquanto a taxa de outros mecanismos é até 20 pontos percentuais menor. O abandono ocorre sobretudo no primeiro período, por decisões apressadas. A preocupação é que quem foi aprovado e se arrependeu use a nota para trocar de curso no Sisu seguinte. “Candidatos que já se alocaram vão ter oportunidade de arriscar mais”, diz Torres.
Em nota, o MEC afirma que a medida amplia a probabilidade de preenchimento das vagas, admite que “pode haver variação nas notas de corte” e sustenta o “princípio da isonomia” entre participantes.
Quando será implementado? A mudança, anunciada em 24 de outubro, vale para o Sisu 2026, quando concorrerão alunos do Enem 2025 e também quem tem notas de 2023 e 2024. A cada Sisu, valem as três edições mais recentes. Em 2027, contarão 2024, 2025 e 2026.
Quem pode usar a nota? Formados ou quem estava no 3º ano em 2023 e 2024 poderão usar essas notas no Sisu 2026. Aprovados nesses anos ou quem não está inscrito no Enem 2025 também poderão tentar vagas. Notas de treineiros são vetadas.
Qual nota será escolhida? Como cada curso/instituição define pesos para Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Linguagens e Redação, o Sisu escolherá automaticamente a melhor combinação para o candidato, sem necessidade de cálculo pelo estudante.
As provas serão aplicadas em 9 de novembro (Linguagens, Ciências Humanas e Redação) e 16 de novembro (Matemática e Ciências da Natureza).
Mín. 22° Máx. 32°