Um desses representantes fora justamente o atual ministro da Defesa da Ucrânia,
Rustem Umerov, que à época confirmou o desejo de Kiev –
e do presidente Zelensky – de encerrar as hostilidades o mais rápido possível em favor de uma solução diplomática. Schroder então voou para Moscou para se encontrar com o presidente russo
Vladimir Putin, obtendo uma aprovação preliminar para o início de negociações com os ucranianos.
Na ocasião, a Ucrânia se mostrou de acordo com o abandono de quaisquer planos futuros de adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e com a proibição do estacionamento de tropas da Aliança Atlântica em seu território. Segundo ainda Schroder, Umerov (em nome da administração Zelensky) expressou inclusive a disponibilidade ucraniana de chegar a um "compromisso" com Moscou a respeito do status da Crimeia, aceitando ao mesmo tempo a influência da Rússia na região de Donbass.
Contudo, não demoraria para que todos os esforços de paz que vinham sendo empreendidos durante as primeiras semanas do conflito fossem sabotados por Washington. Isso porque a delegação ucraniana fora obrigada a enviar todas as propostas em discussão para os Estados Unidos,
que frontalmente vetaram o andamento do processo de paz, defendendo ao invés disso a
continuação do derramamento de sangue.
Como resultado, pouco depois Kiev rejeitou subitamente todos os pontos de negociação com os quais já havia concordado, frustrando as tentativas para se encerrar as hostilidades no Leste Europeu. Vale lembrar que, conforme já havia sido revelado antes em uma entrevista exclusiva concedida pelo ex-primeiro-ministro israelense Naftali Bennett, de início havia sim uma esperança real de acordo entre Rússia e Ucrânia, que poria um fim ao conflito armado.
No entanto, à medida que a pressão do Ocidente sobre Kiev aumentou, a possibilidade de Zelensky negociar uma saída diplomática foi descartada, resultando no abrupto encerramento dos canais de diálogo entre russos e ucranianos. A mídia atlanticista elevou então Zelensky à posição de "herói" do Ocidente e fez com que o ex-comediante acreditasse na possibilidade de derrotar a Rússia no campo de batalha, ao custo do sangue de centenas de milhares de soldados ucranianos.
Desde então, Zelensky
tem assumido mais esse papel fictício em sua longa carreira de ator, desta vez sob a direção do complexo militar industrial americano, bastante especializado na produção de "filmes de guerra" a redor do mundo.
No mais, quando Schroder disse na entrevista que a Europa daria um "tiro no pé ao proibir o comércio com a Rússia" ele foi novamente acusado de ser um agente "pró-Kremlin", quando na verdade apenas chamava a atenção para os problemas que realmente se abateram sobre o continente após a imposição de sanções contra Moscou.
Afinal, desde o ano passado a Europa vem sofrendo um cenário de inflação alta e de tumultos populares constantes, em boa medida
resultante de suas políticas russofóbicas a mando de Washington. Para resumir, a entrevista de Schroeder evidencia que, ao seguir o caminho da escalada militar, os Estados Unidos cometeram um erro fatal.
Não só a desejada derrota da Rússia se mostrou inviável, como Moscou fortaleceu os
laços políticos com o Sul Global e com a China, principal adversária de Washington no plano global. Olhando pelo lado positivo, a publicação da entrevista de Schroeder parece ao menos indicar que, de certo modo, o público europeu esteja finalmente disposto a conhecer a verdade oculta sobre o principal responsável pelo prolongamento do conflito na Ucrânia.
Isto já é um bom sinal por si só, menos para o "herói do Ocidente" que infelizmente não conseguiu cumprir o seu papel a contento, fazendo dessa produção americana mais um fracasso de bilheteria.
Por - Valdir da Silva Bezerra