O Café e Livraria Kitab mal consegue abrigar a multidão que rumou para lá de uma manifestação no Parque Zussman, também localizado em Hamtramck, uma das cidades com maior população árabe-americana na Grande Detroit. Faz um frio de 3°C dois dias antes de democratas e republicanos votarem nas primárias do Michigan, um dos estados decisivos na disputa pela Presidência dos Estados Unidos este ano. O refúgio oferece melhor acústica para se escutar o que Layla Elabed e Abraham Aiyash têm a dizer. E o recado é direto: o desastre humanitário na Faixa de Gaza pode despejar Joe Biden da Casa Branca.
Em 144 dias de ofensiva israelense, estima-se que cerca de 30 mil palestinos foram mortos. A operação militar foi iniciada após o ataque terrorista do grupo palestino Hamas em 7 de outubro, que tirou a vida de mais de 1.100 israelenses e pessoas de outras nacionalidades, além de deixar cerca de 240 reféns. E há, no Kitab, pessoas que perderam familiares, amigos, parentes de amigos. Para elas, o apoio da Casa Branca ao que classificam como genocídio é uma traição que “ultrapassou o limite do suportável”.
— Ou Biden deixa de vetar o cessar-fogo na Palestina na ONU e anuncia a suspensão do financiamento de armas para Israel, ou não terá nosso voto. Acabou. O recado será dado nas urnas nesta terça-feira — disse Aiash.
Não é ameaça vazia. O deputado estadual de óculos de aro preto grosso, tênis branco, cabelo bem cortado e origem iemenita é o líder da maioria na Assembleia do Michigan, governado por Gretchen Whitmer, estrela em ascensão no partido e uma das coordenadoras nacionais da campanha de reeleição de Biden. Constrangida, a governadora disse ontem, em evento pró-presidente, que “as primárias são desenhadas mesmo para este tipo de discussão”, mas também alertou que “um voto a menos para Biden é automaticamente um a mais para Trump”.
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