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Tradição junina: entenda por que Santo Antônio é procurado por quem deseja se casar

Tradição junina: entenda por que Santo Antônio é procurado por quem deseja se casar

03/06/2023 às 09h05 Atualizada em 03/06/2023 às 12h05
Por: Redação
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Foto: Reprodução
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Colocar a imagem de Santo Antônio de cabeça para baixo ou tirar o Jesus menino do colo dele. E livrar o santo do "castigo" apenas quando ele atender o pedido. No imaginário popular, estes são alguns métodos utilizados pelas mulheres solteiras ao pedir um casamento com a ajuda do santo. A lembrança de Antônio como santo casamenteiro tem origem nas atitudes do frade em defesa das mulheres aflitas.

A vida do santo foi pautada pela defesa das pessoas necessitadas. Assim como dava de comer aos famintos, ele acolhia e defendia as mulheres agredidas, perseguidas e humilhadas, por vezes pelos seus companheiros, conforme explica o frei Antônio Rodrigues, frade da Província Franciscana do Brasil e morador do Convento de Santo Antônio, na cidade de Canindé.

“Ele recebeu uma educação muito forte sobre a família, era um homem de falar sobre o verdadeiro sentido da família como instrumento de Deus. Ele aconselhava que os homens amassem as mulheres, que as tratassem com o carinho que elas mereciam”, detalha o frade.

 

Depois da canonização, relatos de milagres atribuídos ao santo começaram a ser difundidos entre os católicos nas cidades europeias, alimentando o hábito de associar Santo Antônio à intercessão pelo matrimônio. Um deles foi de uma jovem muito bonita que havia perdido a esperança de se casar.

Ela pedia um marido e sempre trazia flores para a imagem do santo que mantinha no oratório particular. Impaciente pela demora em alcançar a graça, ela jogou a imagem pela janela. Um homem foi atingido pela imagem do lado de fora da casa. Eles teriam se apaixonado no momento em que o jovem procurou a moça para devolver a imagem.

Noite das solteironas

 

No interior do Ceará, a cidade de Barbalha acolhe tradições que mobilizam multidões em busca dos milagres do casamenteiro. É durante os festejos do padroeiro, no mês de junho, que as ruas são tomadas pelos fiéis que carregam o tronco de árvore que serve como mastro da bandeira de Santo Antônio. O período ficou conhecido como a Festa do Pau da Bandeira.

"Como barbalhense, eu fui criada na devoção a Santo Antônio. Desde os primórdios, já havia a tradição: a moça que acompanhasse o cortejo do mastro da bandeira arranjava matrimônio", explica a advogada Socorro Luna.

Desde 2002, ela organiza a Noite das Solteironas, com rituais acrescentados à festa para reunir pessoas interessadas nas simpatias casamenteiras.

Os frequentadores da Noite das Solteironas, em Barbalha, partilham simpatias e orações para pedir um casamento a Santo Antônio — Foto: Divulgação/Noite das Solteironas

Os frequentadores da Noite das Solteironas, em Barbalha, partilham simpatias e orações para pedir um casamento a Santo Antônio — Foto: Divulgação/Noite das Solteironas

A noite é de quermesse ao lado da igreja matriz, onde Socorro entrega o "kit milagre". Ele contém a casca do pau da bandeira e instruções para o preparo do chá casamenteiro, a medalha de Santo Antônio, a oração para arranjar casamento e a fita com a mensagem "Santo Antônio, tende piedade de nós, as solteironas".

O que começou para preservar a cultura interiorana das quermesses tomou maiores proporções. "Muita gente até ria, mas algumas pessoas passaram a acreditar", lembra Socorro. Atualmente, são muitos os casais que agradecem a Santo Antônio a graça alcançada após as simpatias.

Na última década, os organizadores da festa têm realizado cerimônias para oficializar a união de 15 casais selecionados a cada ano. Socorro complementa que as simpatias não são apenas para as mulheres. A intercessão também vale para homens em busca de casamento, incluindo as relações homoafetivas. "Santo Antônio não tem preconceito, ele quer ver o ser humano feliz", garante.

 

Quando o assunto é intercessão para conseguir casamento, há também uma dica de quem conhece bem a história dos santos. “Meu pai dizia que as pessoas pedem muito o casamento a Santo Antônio. Ele arranja casamento, mas não sabemos se o casamento vai ser tão bom. Se você quiser um marido bom mesmo, tem que pedir a São José”, explica Antônio Maia, de 59 anos, morador de Sobral e integrante de uma família de forte tradição católica.

Um dos motivos seria a vivência de São José como esposo, tendo sido um homem justo e bondoso para Maria e o menino Jesus. Santo Antônio, por outro lado, nunca foi casado.

Além de receber orações dos solteiros, Antônio e José trazem outra semelhança: a presença do lírio na iconografia. Nas imagens dos dois santos, a flor faz alusão à pureza e ao testemunho de uma vida de obediência a Deus.

Pedidos por alimento e sustento

 

A distribuição dos pães de Santo Antônio é uma das práticas dos católicos em devoção ao santo no Nordeste — Foto: Rogério Sales/Convento de Santo Antônio/Divulgação

A distribuição dos pães de Santo Antônio é uma das práticas dos católicos em devoção ao santo no Nordeste — Foto: Rogério Sales/Convento de Santo Antônio/Divulgação

São diversos os aspectos da vida de Santo Antônio que inspiram a devoção dos católicos. É comum que os fiéis peçam a ele ajuda para ter o alimento da família, um reflexo dos esforços que ele fazia para ajudar os mais carentes, providenciando roupas e comida.

“O pai dele era um homem rico. E quando ele via a vida do povo sofrendo, ele pegava aquilo que era do pai e distribuía para os pobres”, conta frei Antônio Rodrigues.

Antes de adotar o nome em homenagem a Santo Antão, Antônio se chamava Fernando. Ele nasceu na cidade de Lisboa, em Portugal, e se tornou frade da Ordem de Santo Agostinho. Anos depois, ele entrou para a Ordem Franciscana. Quando serviu na cozinha do mosteiro, ele continuou o hábito de distribuir pães aos pobres.

A distribuição dos pãezinhos de Santo Antônio é uma das práticas que integram as celebrações do santo até hoje, geralmente com a entrega após a missa ou no envio para famílias necessitadas da região. Outra tradição é receber o pão e colocar na farinha para garantir comida por todo o ano.

“Conversando com as pessoas nas cidades do Nordeste, é comum ver que as pessoas colocam o pão no depósito de farinha na certeza de que, no ano todo, não vai faltar o pão de cada dia. Eu acredito que esse seja um dos maiores milagres de Santo Antônio”, comenta frei Antônio.

 

A busca da intercessão nas situações difíceis é uma alusão à preocupação social de Antônio, que se inspirou na caridade e no serviço como ensinamentos de São Francisco.

“Ele é o santo do meu nome, é para quem peço proteção. Nas dificuldades, a gente pede ajuda a ele, principalmente na dificuldade financeira”, partilha Antônio Maia, técnico de enfermagem aposentado.

Conhecer Francisco, o fundador da fraternidade a quem pertencia, foi outro momento importante na história de Santo Antônio. Isto aconteceu quando ele obteve permissão para viajar em missão para o Marrocos. Por ter ficado doente, ele precisou voltar e teve o barco desviado até Sicília, na Itália. Foi onde os dois se conheceram.

Depois deste encontro, Antônio passou a servir como pregador. Homem culto e de boa educação, ele aceitou o convite de Francisco para seguir como teólogo, transmitindo ensinamentos da fé para os demais frades franciscanos.

Celebrações no Ceará

 

Na cidade de Barbalha, os festejos de Santo Antônio incluem o cortejo do pau da bandeira e mobilizam multidões — Foto: Tito Livônio/Pixel 3000

Na cidade de Barbalha, os festejos de Santo Antônio incluem o cortejo do pau da bandeira e mobilizam multidões — Foto: Tito Livônio/Pixel 3000

Antônio morreu no dia 13 de junho de 1231 e foi canonizado pela Igreja Católica menos de um ano depois. Atualmente, os festejos de Santo Antônio acontecem na forma de trezena, com dias seguidos de orações e ritos entre os dias 1º e 13 de junho.

A devoção popular no Ceará se explica historicamente pela introdução do catolicismo pelos colonizadores portugueses.

Como era difícil interiorizar os ritos clericais em um grande território, as festas dos santos realizadas pelos senhores das fazendas deram força ao catolicismo popular no campo e na cidade, conforme contextualiza George Paulino, coordenador do Laboratório de Antropologia e Imagem da Universidade Federal do Ceará (LAI/UFC).

Na sociedade brasileira, o catolicismo popular assumiu formas diversas com influências de outros povos, como indígenas e afrodescendentes. O povo e as comunidades assumem um papel ativo em suas relações com o sagrado, criando rituais que vão além daqueles ensinados pela Igreja Católica.

Deixar o santo de cabeça para baixo ou amarrá-lo sob o sol na esperança de influenciar resultados são práticas rituais que envolvem atos mágicos, exemplifica o pesquisador.

“A devoção é uma relação de respeito e intimidade. Muitas vezes tão íntima, que inclui a licenciosidade de falar jocosamente com o santo e até de pressioná-lo, castigá-lo, sensibilizá-lo”, observa Paulino.

 

Esta relação de confiança e intimidade com o santo é um dos elementos que explica a continuação das festas e tradições ao longo dos anos. "As festas não morrem, transformam-se", comenta o pesquisador, que atualmente estuda festas católicas em bairros de Fortaleza, com rituais em honra a São José e São Sebastião.

Um dos exemplos de diversidade de rituais está na Festa do Pau da Bandeira em Barbalha, reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Na Matriz de Santo Antônio, a trezena em honra ao santo começa no dia 31 de maio e vai até 12 de junho, com quermesses na lateral do templo. O período de festas na cidade inclui shows de forró, as simpatias casamenteiras e as tradições populares de carregamento e hasteamento da bandeira.

As igrejas franciscanas também costumam celebrar Santo Antônio. É o que acontece em Sobral, a 233 km de Fortaleza. Quando junho começa, o Santuário São Francisco promove as quermesses após a missa. No dia 13, uma procissão com a imagem do santo toma as ruas da cidade.

O aposentado Antônio Maia teve o nome escolhido em homenagem ao santo e participa ativamente das festividades no Santuário de São Francisco, em Sobral — Foto: Arquivo Pessoal

O aposentado Antônio Maia teve o nome escolhido em homenagem ao santo e participa ativamente das festividades no Santuário de São Francisco, em Sobral — Foto: Arquivo Pessoal

"Os outros santos têm novenas, Santo Antônio tem trezena", compara Antônio Maia, que também é Ordem Franciscana Secular e cultiva, como leigo, uma espiritualidade baseada no legado de São Francisco.

No período da trezena de Santo Antônio, ele costuma levar bolo, paçoca e baião de dois para vender nas barracas de comidas típicas durante os festejos. É uma forma de ajudar na arrecadação para o funcionamento da igreja.

O Santuário também faz orações para Santo Antônio todas as terças-feiras durante o ano. Em alusão à distribuição dos pães, os fiéis também arrecadam alimentos para auxiliar 73 famílias cadastradas.

Em Canindé, a procissão de Santo Antônio encerra a trezena em homenagem ao santo no dia 13 de junho — Foto: Frei João Sannig/Convento de Santo Antônio/Divulgação

Em Canindé, a procissão de Santo Antônio encerra a trezena em homenagem ao santo no dia 13 de junho — Foto: Frei João Sannig/Convento de Santo Antônio/Divulgação

No Convento de Santo Antônio, em Canindé, as festas começam com carreata no fim de maio para convidar as pessoas para as festividades. Até antes da pandemia, o formato era de procissão.

A trezena conta com missas diárias e barracas, e a festa termina no dia 13 com uma procissão que sai do convento, no centro da cidade.

Fonte: G1

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