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Cinco meses após mortes de Bruno e Dom, Vale do Javari está a um passo de novos assassinatos

Cinco meses após mortes de Bruno e Dom, Vale do Javari está a um passo de novos assassinatos

19/11/2022 às 09h56 Atualizada em 19/11/2022 às 12h56
Por: Redação
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Indigenous members of the Union of Indigenous Peoples of the Javari Valley (UNIVAJA), look for clues that lead to the whereabouts of veteran correspondent Dom Phillips and respected indigenous specialist Bruno Pereira, in Vale do Javari, municipality of A
Indigenous members of the Union of Indigenous Peoples of the Javari Valley (UNIVAJA), look for clues that lead to the whereabouts of veteran correspondent Dom Phillips and respected indigenous specialist Bruno Pereira, in Vale do Javari, municipality of A

Pescador se apresentou como cúmplice das mortes e ameaçou tirar a vida de liderança Kanamari: "você será a próxima"

A Associação dos Kanamari do Vale do Javari (Akavaja) denunciou nesta semana mais um ataque violento a indígenas do Vale do Javari, onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram assassinados em junho desde ano.

A Akavaja, que integra a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), descreveu em nota um episódio de terror no qual uma liderança indígena mulher é ameaçada de morte sob a mira de uma arma, na frente de um grupo composto por adultos e crianças, que navegava pelo rio Itacoaí.

Na ocasião, um pescador relatou ser da mesma "equipe" que matou Bruno e Dom e prometeu assassinar todas as lideranças indígenas que se opõem à presença dos invasores, que estão organizados em quadrilhas armadas.

O alerta vem do Observatório dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi), organização fundada por Bruno Pereira. A entidade diz que o risco de novas mortes é concreto e denuncia que a prisão dos autores das mortes de Bruno e Dom não foi suficiente para por fim à violência.

"A situação vivida pelos Kanamari demonstra que as investigações dos assassinatos de Bruno e Dom não podem ser consideradas encerradas enquanto a organização criminosa que participou dos crimes permanecer atuando na região", escreveu o Opi.

No comunicado, os Kanamari questionam: "essa situação foi mais uma que aconteceu aqui, mesmo após os terríveis assassinatos de nossos irmãos e parceiros, Bruno e Dom, nada mudou e nos perguntamos: quantos dos nossos iremos perder nesta guerra?".

Entenda o caso

No dia 9 de novembro, por volta de 9h30, cerca de 30 indígenas Kanamari, a maioria crianças e mulheres, voltavam da aldeia Massapê, onde organizavam o encontro de lideranças da Univaja, quando uma das embarcações foi interceptada por barcos cheios de pescadores ilegais.

Armados, eles tentaram comprar o silêncio das lideranças, oferecendo em troca tracajás - uma espécie de tartaruga -  de origem ilegal. Uma liderança Kanamari mulher interveio e questionou por que o grupo insistia em saquear os recursos ilegais de usufruto exclusivo dos indígenas.

Com uma arma apontada para o peito, a líder Kanamari ouviu de um pescador que as mortes no Vale do Javari não iriam cessar até que todas as lideranças fossem assassinadas. E que ela, uma das principais líderes do seu povo, estava marcada para morrer.

"Vou tirar a máscara para você ver meu rosto e te avisar que é por conta de atitudes assim que Bruno e Dom foram mortos pela nossa equipe. E você será a próxima. Só não te matarei agora porque estamos na presença de muitas crianças", disse o agressor, segundo carta divulgada pela Akavaja.

Ao deixar o local, os invasores cortaram a fiação de um dos motores dos barcos ocupados pelos indígenas. Na sequência, dispararam contra as canoas dos Kanamari, perfurando um dos tambores de gasolina levados pela embarcação.

"Queremos ajuda"

A associação dos Kanamari afirma que viver sob a mira dos invasores virou rotina e diz temer também pela segurança dos indígenas isolados, aqueles que têm contatos pouco significativos ou frequentes com a sociedade não indígena.

O povo indígena encerra o comunicado dizendo que "esta carta é um pedido de ajuda. Queremos ajuda, pois queremos viver. Toda a vida que habita a floresta é importante e defenderemos nossos irmãos e irmãs sempre. Seguiremos fortes até o fim".

Impunidade gera violência, diz Opi

O Opi chama a atenção para o fato de um dos pescadores ter retirado a máscara e se identificado como autor das mortes de Bruno e Dom. As ameaças foram feitas "com tal certeza de impunidade, que [os pescadores] se implicaram voluntariamente nos crimes de junho de 2022 [contra Bruno e Dom]", diz o Opi.

Segundo a entidade, as investigações precisam do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF) para "desbaratar, de uma vez por todas, a organização criminosa que assola o Javari".

"A Força Nacional precisa ter seu efetivo reforçado e não pode ficar estacionada na base de Proteção Etnoambiental Itui-Itaquaí, precisa patrulhar a região e, com o apoio de outros órgãos, fiscalizar os inúmeros lagos e garantir a segurança dos indígenas e servidores públicos que por ali transitam", complementa a organização formada por indígenas e indigenistas.

OAB se manifesta

Em nota a Ordem dos Advogados do Brasil do Amazonas (OAB-AM) repudiou o caso e prestou solidariedade aos indígenas vítimas da ameaça. A OAB afirmou a distância de grandes centros urbanos dificulta o acesso das autoridades ao Vale do Javari, o que fortalece a presença de invasores.

"Os brasileiros que habitam o interior da floresta são igualmente legitimados das garantias constitucionais. Portanto, toda ameaça à existência, isto é, à vida, à cultura, à religião, e o meio ambiente equilibrado, deve ser combatido com a higidez que exige o caso concreto".

Edição: Thalita Pires

Fonte: Brasil de Fato

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