O estudo avaliou 19,4 milhões de vínculos empregatícios, dos quais 41,1% são de mulheres e 58,9% de homens. A remuneração média feminina é de R$ 3.908,76, enquanto a dos homens alcança R$ 4.958,43. Embora o número de mulheres empregadas em grandes empresas tenha subido de 7,2 milhões em 2023 para 8 milhões em 2025, o total pago a elas representa apenas 35% da massa salarial. Se essa proporção acompanhasse o avanço da presença feminina, R$ 92,7 bilhões poderiam ser injetados na economia nacional.
Desigualdade racial amplia o fosso salarial
A diferença é ainda mais acentuada quando se leva em conta o fator racial. Mulheres negras recebem 33,5% menos no salário de admissão e 53,3% menos na média salarial do que homens não negros. Enquanto o rendimento médio delas é de R$ 2.986,50, o dos homens não negros chega a R$ 6.391,94 — o que representa uma remuneração 114% superior.
A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, classificou a situação como “inaceitável”.“A inserção das mulheres no mercado não basta. É inaceitável que mulheres negras recebam metade do rendimento de homens não negros. Temos como compromisso intensificar medidas que resolvam essas distorções, promovam políticas de apoio, como a ampliação da licença-paternidade e o auxílio-creche”, afirmou.
Apesar de avanços tímidos — como o crescimento de 21,1% no número de empresas com pelo menos 10% de mulheres negras desde 2023 —, a desigualdade segue persistente. O número de estabelecimentos com diferença salarial inferior a 5% entre gêneros subiu para 6,4%, o que ainda é considerado baixo pelo MTE.
Diferenças regionais e justificativas empresariais
O relatório também aponta fortes disparidades regionais. Os estados com maior desigualdade são Paraná (28,5%), Rio de Janeiro (28,5%), Santa Catarina (27,9%), Mato Grosso (27,9%) e Espírito Santo (26,9%). Já os com menores diferenças são Piauí (7,2%), Amapá (8,9%), Acre (9,1%), Distrito Federal (9,3%), Ceará (9,9%) e Pernambuco (10,4%).
As empresas justificam as disparidades salariais principalmente pelo tempo de experiência (78,7%), cumprimento de metas (64,9%) e existência de planos de cargos e carreira (56,4%). Apenas 38,9% afirmam ter políticas específicas de promoção feminina e 21,9% oferecem auxílio-creche.
Políticas de inclusão e fiscalização
O MTE destaca que ações de diversidade ainda são limitadas. Apenas 23,1% das empresas promovem incentivo à contratação de mulheres negras, 19,7% de mulheres com deficiência e 7,8% de mulheres indígenas. Para o governo, medidas como licença parental estendida e flexibilidade de jornada são essenciais para corrigir o desequilíbrio.
“As empresas precisam avançar na construção de planos de ação que promovam a igualdade salarial entre homens e mulheres dentro de suas empresas. Precisamos acelerar esse processo”, declarou Paula Montagner, subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil poderia aumentar sua economia em R$ 382 bilhões com políticas efetivas de igualdade de gênero. Já o Banco Mundial estima que a equiparação total entre homens e mulheres no mercado elevaria o PIB global em mais de 20%.
Em 2025, a fiscalização do MTE realizou 787 ações, alcançando cerca de um milhão de empregados. Destas, 319 já foram concluídas e 468 estão em andamento, resultando em 154 autos de infração. As empresas devem publicar seus relatórios de igualdade salarial — e 71% já baixaram o documento oficial em outubro.
