Os casos de infecção pelo HIV entre adolescentes de 10 a 19 anos cresceram 17% na Bahia entre 2023 e 2024, segundo dados divulgados pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). O número de notificações subiu de 160 para 187 nesse intervalo. O aumento está relacionado principalmente à ampliação da testagem, mas também levanta preocupações quanto ao comportamento de uma geração que não vivenciou o auge do medo causado pela aids nas décadas anteriores.
A coordenadora da área de doenças transmissíveis da Sesab, Eleuzina Falcão, afirma que a maior facilidade de acesso aos testes, especialmente os rápidos oferecidos em unidades de saúde, tem impulsionado a detecção precoce. “Se consigo detectar os casos mais cedo, consigo colocar esses pacientes em tratamento e fazer com que tenham uma qualidade de vida melhor”, afirmou.
Um dos destaques nas ações de prevenção é o projeto PrEPara Salvador, que oferece a profilaxia pré-exposição (PrEP) para adolescentes LGBTQIAPN+ de 15 a 19 anos. A iniciativa, sediada no Casarão da Diversidade, diagnosticou 20 jovens com HIV em Salvador — número significativamente maior que os registrados em outras cidades onde o projeto também atua, como São Paulo e Belo Horizonte, que notificaram até dois casos.
Para o pesquisador da Fiocruz e um dos coordenadores do projeto, Laio Magno, o aumento da incidência é mais comum entre homens cisgêneros que fazem sexo com outros homens, mas não se identificam como gays. “Essa população tem acessado pouco a PrEP, mesmo com a tecnologia disponível no SUS”, destacou.
A PrEPara Salvador atua em parceria com instituições como a Universidade do Estado da Bahia (Uneb), a Universidade Federal da Bahia (Ufba) e a própria Fiocruz, utilizando estratégias de prevenção como o uso de preservativos, PrEP oral e injetável. Jonathan Xavier, de 27 anos, autônomo e integrante do Conselho Municipal LGBT+ de Salvador, utiliza a PrEP e considera a iniciativa uma proteção complementar ao preservativo. “É uma segurança a mais. Me sinto mais seguro com esse cuidado extra e indico para todos os meus amigos”, declarou.
Ainda conforme a publicação de A Tarde, a Sesab busca oferecer uma abordagem de prevenção combinada ao HIV e outras ISTs, adaptando os métodos às necessidades de cada indivíduo. “Nenhuma intervenção de prevenção isolada é suficiente”, alertou Eleuzina Falcão. O atendimento é feito nas Unidades Básicas de Saúde e em instituições como o Instituto Couto Maia (ICOM), especializado em doenças infectocontagiosas.
Na capital baiana, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) mantém testagens rápidas para HIV e ISTs em diversas unidades, além de três Serviços de Atendimento Especializado (SAE), que oferecem acolhimento e acompanhamento às pessoas vivendo com HIV e aids. Helena Lima, da gerência da atenção especializada ambulatorial, reforça a importância desse cuidado contínuo. “O acompanhamento é importante porque, quando tratamos uma pessoa, também evitamos que outras sejam infectadas. Se for uma mulher gestando, por exemplo, conseguimos interromper a cadeia de transmissão para a criança”, explicou.
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