O setor agropecuário brasileiro será beneficiado pelo acordo entre Mercosul e União Europeia, especialmente com o crescimento das exportações de carnes, oleaginosas, açúcar, etanol e suco de laranja. No entanto, as cotas tarifárias impostas pelo bloco europeu ainda limitam o potencial de ampliação da demanda, mantendo a proteção à agricultura local, segundo análise de Leandro Giglio, pesquisador do Insper Agro Global.
“Ainda que o acordo traga avanços, as exportações de carne bovina continuam enfrentando severas restrições. A cota atual, de cerca de 115 mil toneladas, representa menos de 2% do consumo anual de 6,2 milhões de toneladas na União Europeia. Mesmo com o aumento dessa cota, o impacto permanece modesto frente à capacidade exportadora do Brasil”, explicou Giglio.
Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), destacou que o acordo prevê novas cotas tarifárias para carne de frango, suínos e ovos, totalizando 180 mil toneladas, 25 mil toneladas e 3 mil toneladas, respectivamente, com tarifa zero. “Embora o ideal fosse a eliminação completa das cotas, esse aumento progressivo ao longo de seis anos deve beneficiar o Brasil, que deve absorver cerca de 80% dessas novas oportunidades de exportação no Mercosul”, avaliou Santin.
Dados da ABPA mostram que entre janeiro e novembro deste ano o Brasil exportou 205 mil toneladas de carne de frango para a União Europeia, gerando receitas de US$ 749,2 milhões.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) também destacou a criação de uma nova cota de 99 mil toneladas de carne bovina para exportação do Mercosul à UE, além da isenção de taxa de 20% para a chamada Cota Hilton, que inclui 10 mil toneladas de carne premium.
Outros segmentos do agro, como açúcar e etanol, também poderão explorar novos mercados no bloco europeu, ainda que em volume limitado devido ao protecionismo.
Embora o texto do acordo seja considerado “desidratado”, com concessões de ambos os lados, especialistas veem a iniciativa como um avanço importante para o agro brasileiro, que continua ampliando sua participação em mercados estratégicos. O Mercosul e a União Europeia, conhecidos por políticas protecionistas, conseguiram encontrar um meio termo para impulsionar as trocas comerciais.
A implementação do acordo, porém, ainda depende de etapas formais e será gradual, trazendo desafios e oportunidades para o Brasil consolidar sua posição como potência agrícola global.
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