O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a guerra tarifária entre Brasil e Estados Unidos vai começar no momento em que o governo brasileiro der a resposta a sobretaxa de 50% sobre importações de produtos brasileiros aos EUA imposta por Donald Trump a partir de 1º de agosto. Lula disse que as condições de negociação colocadas pelo presidente americano não foram adequadas.
— Nós não estamos numa guerra tarifária. Guerra tarifária vai começar na hora que eu der a resposta ao Trump. Se não mudar de opinião, porque as condições que o Trump impôs não foram condições adequadas. Ninguém pode ameaçar um partido com uma decisão judicial. Quem sou eu para tomar a decisão diante da Suprema Corte? O cidadão que ele defende está sendo julgado por um crime que ele cometeu, que está nos autos do processo, dito por eles próprios, não é por mim — disse Lula a jornalistas em Santiago, no Chile, pouco antes de embarcar de volta para Brasília nesta segunda-feira.
Na carta publicada nas redes sociais em que anunciou o tarifaço, há duas semanas, Donald Trump justificou a medida como uma retaliação ao Brasil ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal no inquérito que investiga a trama golpista. Desde então, Donald Trump tem escalado a tensão com governo brasileiro.
Além do tarifaço, na semana passada, o Escritório do Representante de Comércio dos EUA abriu uma investigação sobre o Brasil devido a supostas práticas comerciais desleais, incluindo o Pix. O objetivo é averiguar se elas estão restringindo de forma injusta as exportações americanas ao Brasil.
Na última sexta-feira, Trump determinou a revogação de visto de entrada dos Estados Unidos dos ministros do Supremo Tribunal Federal. A sanção foi aplicada ao ministro Alexandre de Moraes, familiares, e a outros colegas da Corte: Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Flavio Dino, Cármen Lúcia, Edson Fachin e Gilmar Mendes.
O governo avalia usar a Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso, tão logo o tarifaço entre em vigor. A lei permite a adoção de sanções equivalentes às impostas por outros países. Em paralelo, como mostrou O GLOBO, o "plano de contingência" contra o tarifaço de Donald Trump poderá incluir a criação de linhas emergenciais de crédito por parte do governo.
Lula também afirmou os empresários brasileiros precisam conversar "com seus contrapartes nos Estados Unidos" e disse que americanos e brasileiros serão tratados da mesma forma no Brasil:
— No Brasil vamos fazer respeitar as leis para as empresas brasileiras e para as empresas americanas. Não tem essa de um poder ser punido outro não. Todos ser tratados de igualdade de condições.
Lula ainda destacou a forte relação diplomática entre Brasil e Estados Unidos e afirmou que ninguém pode dizer que ele é radical, uma vez que teve relação com ex-presidentes americanos. Lula citou Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e Joe Biden e disse que se Trump quiser, sua relação com o presidente americano será a "melhor possível":
— Se ele quiser, a nossa relação será a melhor possível. Acontece que dois chefes de Estado precisam conversar para levar em conta os interesses do seu país. Eu não acho ruim que o Trump esteja defendendo os interesses dos Estados Unidos. Agora o que ele tem que levar em conta é que eu tenho que defender os interesses do Brasil.
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