O estudante Edcley Teixeira, de Sobral (CE), alvo de investigação por supostamente antecipar questões do Enem 2025 em uma transmissão ao vivo, afirmou que a semelhança entre os conteúdos foi apenas uma “coincidência” e reconheceu ter feito uma “publicidade infeliz” ao tentar promover seu curso preparatório. As informações foram divulgadas pelo Fantástico, da TV Globo.
A polêmica levou o Ministério da Educação (MEC) a anular três questões do segundo dia do Enem e a acionar a Polícia Federal. Na manhã deste sábado (23), a PF apreendeu o celular, o computador e documentos do estudante, que cursa o quarto ano de Medicina e oferece aulas on-line voltadas para candidatos do exame nacional.como começou a investigação
As suspeitas surgiram logo após o encerramento do segundo dia de provas, realizado em 16 de novembro. Edcley teria apresentado, em uma live realizada na mesma semana do Enem, perguntas consideradas “extremamente parecidas” com as que apareceram na prova oficial, assistida por quase cinco milhões de estudantes em todo o país.
Durante entrevista ao Fantástico, ele negou ter tido acesso antecipado ao conteúdo. “Eu acho que essas similaridades pontuais foram coincidências”, declarou. Ao mesmo tempo, admitiu ter remunerado participantes de uma prova anterior para memorizarem perguntas: “É uma forma de publicidade que hoje eu considero infeliz”.questões quase idênticas
A jornalista Luiza Tenente, do g1, analisou o vídeo da live — hoje restrito ao público — e identificou cinco questões com alto grau de semelhança em relação ao Enem. “Eu vi que eram os mesmos números, a mesma situação-problema, muitas vezes as alternativas eram basicamente idênticas”, afirmou ela ao programa.Questionado sobre essa coincidência, Edcley reiterou que não sabia que os itens cairiam no exame. Já a repórter foi categórica ao avaliar o caso: “É muito difícil acreditar que tenha sido sorte. Eu diria que é impossível”.
Edcley confirmou que as questões anuladas estavam presentes no Prêmio Capes Talento Universitário, realizado em 2024 e promovido pelo MEC. “Eu desconfiei que pudesse ser um tipo de pré-teste”, disse o estudante, afirmando ter percebido padrões semelhantes aos usados no Enem.
Os chamados pré-testes são provas aplicadas pelo Inep com o objetivo de avaliar perguntas que podem vir a compor o banco de itens do exame nacional. O Inep confirmou que o prêmio funciona como uma espécie de laboratório para validar questões.A apuração mostrou ainda que Edcley pagava participantes da prova para memorizarem e enviarem detalhes de “até dez questões”. As mensagens teriam sido usadas para alimentar seus conteúdos preparatórios.
A Polícia Federal deve analisar o material apreendido para verificar se houve fraude, acesso indevido a informações sigilosas ou uso ilegal de dados dos pré-testes. O MEC, por sua vez, informou que as anulações não comprometem o exame e que medidas de segurança estão sendo reavaliadas.
Até o momento, Edcley não é formalmente acusado de crime, mas segue sob investigação. A Polícia Federal e o Inep ainda não divulgaram prazos para a conclusão do inquérito.