Polícia Política
PF revela participação de José Carlos Oliveira e Edson Yamada em fraudes bilionárias contra aposentados
Investigação da Operação Sem Desconto indica assinaturas de 10 acordos que possibilitaram desvios e descontos irregulares
17/11/2025 14h27
Por: Redação
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O esquema bilionário que atingiu aposentados em todo o país ganhou novos desdobramentos e agora envolve diretamente o ex-ministro da Previdência José Carlos Oliveira e seu sócio, o ex-dirigente do INSS Edson Yamada. Documentos e diligências recentes da Polícia Federal apontam que ambos foram responsáveis por autorizar acordos que abriram caminho para descontos indevidos em benefícios previdenciários, movimentando valores que chegam a R$ 1,9 bilhão.

As informações foram divulgadas pelo Metrópoles, que detalhou como Oliveira e Yamada assinaram 10 Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com associações hoje investigadas. Na nova fase da Operação Sem Desconto, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão contra ambos, além de prender três ex-dirigentes do INSS — entre eles o ex-presidente Alessandro Stefanutto. Por determinação do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), Oliveira passou a usar tornozeleira eletrônica.

Três desses ACTs foram assinados por Oliveira quando ele era diretor de Benefícios, setor responsável por autorizar descontos nos contracheques dos beneficiários. Os outros sete partiram de Yamada, que assumiu a função quando Oliveira se tornou presidente do INSS. Yamada permaneceu no posto durante o governo Jair Bolsonaro e nos primeiros meses da gestão Lula.

Ambos também eram sócios na consultoria Oriente, que tem a filha do ex-ministro, Yasmin Ahmed Oliveira, no quadro societário. Além disso, Yamada doou R$ 15 mil para a campanha de Oliveira à Câmara Municipal de São Paulo pelo PSD, em 2024.

Atuação junto à Conafer e indícios financeiros

A investigação também expõe a relação de Oliveira com a Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores e Empreendedores Familiares Rurais), apontada como responsável por mais de R$ 640 milhões desviados do INSS. Em 2021, quando era diretor de Benefícios, ele liberou R$ 15,3 milhões para a entidade mesmo sem a apresentação da documentação exigida, permitindo que descontos irregulares fossem aplicados em mais de 650 mil benefícios.

Planilhas apreendidas no setor financeiro da Conafer indicam repasses suspeitos. Em fevereiro de 2023, os investigadores identificaram um pagamento de R$ 100 mil associado ao codinome “São Paulo Yasser”, atribuído pela PF a Oliveira — convertido ao islamismo e atualmente registrado como Ahmed Mohamad. Naquele período, ele já havia deixado o Ministério da Previdência, mas Yamada permanecia à frente da diretoria de Benefícios.

A PF cita ainda uma mensagem na qual Oliveira agradece Cícero Marcelino de Souza Santos, apontado como operador financeiro da Conafer, após suposto recebimento indevido. Em troca, ele teria atuado para evitar a suspensão do acordo que mantinha a entidade autorizada a realizar descontos.

Carreira, aposentadoria e questionamentos internos

Servidor desde 1985, Oliveira fez carreira no INSS ocupando funções de chefia em São Paulo, até assumir a diretoria de Benefícios, a presidência do órgão e, posteriormente, o Ministério da Previdência no fim do governo Bolsonaro. Na semana passada, já sob investigação, foi aposentado, movimento que gerou estranhamento entre servidores e levantou suspeitas de que a medida visaria escapar de um Processo Administrativo Disciplinar em trâmite na Controladoria-Geral da União (CGU). O INSS afirma não ter sido informado oficialmente sobre sua aposentadoria.

A reportagem do Metrópoles buscou as defesas de José Carlos Oliveira e Edson Yamada, mas não obteve retorno até a publicação.