A crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos ganhou novos contornos nesta quarta-feira (30), alterando a percepção de desvantagem do governo brasileiro frente à Casa Branca. No entanto, interlocutores em Brasília afirmam que, apesar dos sinais positivos, ainda não é possível considerar o impasse superado, diante da imprevisibilidade que marca a gestão do presidente americano Donald Trump.
Segundo informações de O Globo, a decisão de adiar por sete dias a entrada em vigor da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, inicialmente prevista para esta sexta-feira, além da exclusão de itens como aviões da Embraer e suco de laranja da lista de sobretaxas, foram frutos de articulação envolvendo diplomatas e empresários dos dois países. A mobilização buscou despolitizar uma disputa originalmente comercial, mas que se intensificou após manifestações públicas do governo americano.
O marco inicial da tensão diplomática remonta ao último dia 9, quando Trump enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O documento, considerado inaceitável pelo Itamaraty e devolvido no mesmo dia, acusava o governo brasileiro de perseguir o ex-presidente Jair Bolsonaro e criticava a regulação das big techs. Trump também declarou, de forma equivocada, que o Brasil mantinha superávit na balança comercial com os Estados Unidos.
Um dos pontos considerados mais relevantes por integrantes do Palácio do Planalto e do Itamaraty foi o encontro, também nesta quarta-feira, entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio. Essa foi a primeira reunião entre os dois desde que Rubio assumiu o cargo, o que sinaliza a reabertura do diálogo diplomático com Washington.
Empresários brasileiros, por sua vez, defendem a intensificação dos contatos nos Estados Unidos para proteger as exportações nacionais. A estratégia inclui articulações com parlamentares republicanos e, agora, também com governadores de estados americanos que possam ser afetados pelo encarecimento dos insumos importados do Brasil.
Com apoio de setores industriais americanos, os empresários planejam argumentar que os produtos brasileiros exportados são, em sua maioria, matérias-primas e insumos, sem concorrência direta com o mercado americano. Destacam ainda os investimentos brasileiros nos EUA e o fato de que parte significativa do comércio bilateral ocorre entre filiais de uma mesma companhia.
Para membros do governo Lula, o cenário permanece incerto. Há receios de que Trump continue buscando interferir em decisões internas do Judiciário brasileiro, mesmo diante das reiteradas declarações de Lula sobre a soberania nacional e a independência entre os Poderes.
A percepção atual é que os Estados Unidos não apenas buscam dificultar o comércio bilateral, mas também ampliar sua influência sobre setores estratégicos. Além do interesse em minerais como lítio, nióbio e terras-raras, a Casa Branca abriu uma investigação sobre práticas comerciais no Brasil. A apuração pode resultar em novas tarifas e atinge diretamente o sistema de pagamentos instantâneos Pix, amplamente utilizado pela população brasileira.