Saude Saúde
Mpox: tudo o que se sabe sobre a nova cepa mais letal que foi identificada no Brasil
Clado 1b foi um dos motivos que levaram a OMS a declarar novamente emergência internacional de saúde para a doença em agosto do ano passado
10/03/2025 07h53
Por: Redação Fonte: O Globo
Vírus da mpox. — Foto: NIAIS

O Estado de São Paulo confirmou, nesta sexta-feira, o primeiro caso da nova cepa mais letal do vírus da mpox, chamada de Clado 1b, no Brasil. A variante tem sido responsável por um surto de grande magnitude na República Democrática do Congo (RDC) e levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a decretar emergência de saúde pública de importância internacional (ESPII), seu mais alto nível de alerta, em agosto do ano passado.

O quadro é de uma mulher de 29 anos residente da Região Metropolitana de São Paulo que tem boa evolução, passa bem, e deve ter alta na próxima semana. Ela não viajou para outras regiões onde há surto, mas teria recebido pessoas da RDC, seu país de origem, recentemente.

Uma preocupação é que essa versão do vírus não é a mesma do surto mundial de 2022, que era mais branda. O Clado 1 costuma ter uma letalidade até 10 vezes maior que o Clado 2, responsável pelo surto há três anos.

Abaixo, confira tudo o que se sabe sobre o cenário da mpox e a nova cepa:

 

Quais são as cepas do vírus mpox?

 

A mpox é uma doença viral da mesma família da varíola erradicada em 1980, embora mais rara e geralmente mais leve. Existem duas principais cepas conhecidas, uma associada à África Central na região do Congo (que era chamada de Central African clade ou Clado do Congo) e outra à África Ocidental na região da Nigéria (chamada de West African clade ou Clado da Nigéria).

Elas foram renomeadas, respectivamente, para Clado 1 e Clado 2 no final de 2022, no mesmo movimento que trocou o nome da doença de "varíola dos macacos" para mpox. A 2, que é mais branda, foi a responsável pela propagação global em 2022 depois que uma nova versão, chamada de 2b, ganhou a habilidade de se disseminar via relações sexuais.

Na época, a OMS também decretou ESPII, e o Brasil foi um dos países mais afetados – o primeiro a relatar um óbito fora da África. Essa cepa (2b) continua a circular e a provocar casos pelo mundo, inclusive no Brasil, porém de forma mais fraca e sem um cenário de emergência global.

No entanto, em setembro de 2023, pesquisadores detectaram uma nova variante do vírus da mpox, dessa vez derivada do Clado 1, que é mais grave, com estimativas que chegam a 10% de letalidade. A cepa também parece ter adquirido a capacidade de ser transmitida sexualmente e recebeu o nome de 1b.

 

Quão grave é a nova cepa?

 

Tradicionalmente, o Clado 2 tem uma taxa de letalidade de cerca de 1%, ou seja, 1 pessoa morre a cada 100 casos. Já o Clado 1 tem uma letalidade de aproximadamente 10%, ou seja, 10 vezes mais grave.

O Clado 1 é a que se dissemina agora. Porém, embora o número de óbitos na RDC seja grande, nenhuma morte associada ao Clado 1b foi relatada nos países fora da África que registraram a variante do vírus.

 

Quais países já registraram a nova cepa da mpox?

 

Segundo a última atualização da OMS, o Clado 1b tem transmissão comunitária (circula no local, e não é registrada apenas com casos importados) na RDC, onde causa um grande surto; em Burundi; no Quênia; em Ruanda; na Uganda e na Zâmbia.

No continente, registros de viajantes, sem transmissão comunitária, foram identificados em Zimbabué. Há sugestões ainda de circulação do vírus na Tanzânia após casos de pessoas que vieram do país, embora não exista confirmação de diagnósticos por lá.

Já fora da África, além do Brasil outros 13 países já registraram casos do Clado 1b da mpox: Reino Unido (nove casos); China (sete casos); Alemanha (sete casos); Tailândia (quatro casos); Bélgica (dois casos); Estados Unidos (dois casos); Canadá (um caso); França (um caso); Índia (um caso); Omã (um caso); Paquistão (um caso); Suécia (um caso) e Emirados Árabes Unidos (um caso).

“Casos importados de mpox ocorreram entre adultos que viajaram durante seus períodos de incubação ou apresentaram sintomas iniciais e foram diagnosticados após chegarem ao país que notificou o caso. Frequentemente, esses indivíduos relataram contato sexual prévio com uma pessoa com mpox confirmado ou com alguém que apresentava sinais e sintomas sugestivos da doença”, diz a OMS.

 

A nova cepa da mpox vai se disseminar globalmente?

 

O cenário não é o mesmo observado em 2022 ainda, porém a organização alerta para a possibilidade de maior propagação da cepa:

“O surto multicontinental de mpox causado pelo Clado 2b, iniciado em 2022, demonstrou que o contato sexual pode sustentar a transmissão comunitária do vírus. Da mesma forma, os subclados 1a e 1b também estão se espalhando por meio do contato sexual”, diz.

No final de fevereiro, o Comitê de Emergência da OMS para mpox se reuniu e recomendou ao diretor-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que mantivesse a emergência declarada em agosto para a doença. Tedros seguiu a recomendação.

Em nota, a OMS afirmou que o comitê se baseou “no aumento contínuo dos números (da mpox) e na sua expansão geográfica, na violência no leste da República Democrática do Congo (RDC) - que dificulta a resposta - e na falta de financiamento para implementar o plano de resposta”.

 

Como a mpox é transmitida?

 

Segundo a OMS, a mpox pode ser transmitida aos seres humanos por meio do contato físico com alguém que esteja transmitindo o vírus, com materiais contaminados ou com animais infectados. No entanto, uma das vantagens evolutivas que fez o vírus se disseminar globalmente de forma inédita em 2022 foi a disseminação via relações sexuais.

Agora, as evidências apontam que o Clado 1 também conseguiu se propagar pelo sexo. Em entrevista ao GLOBO, o diretor executivo da Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI), Richard Hatchett, que esteve no Rio de Janeiro no ano passado para a 2º Cúpula Global de Preparação para Pandemias, já havia feito um alerta sobre os riscos de uma nova propagação da mpox por causa de relações sexuais:

— O que mudou e resultou no aumento global em 2022 foi que o vírus encontrou seu caminho por redes de transmissão sexual. Era uma questão de tempo até que, como o HIV, essas redes começassem a se conectar em uma transmissão global. O preocupante neste momento é que esse outro Clado, que tem uma taxa de letalidade que pode ser até 10 vezes maior, também encontrou seu caminho para a transmissão sexual. Então estamos olhando para uma potencial bomba-relógio em que a forma mais perigosa da doença agora tem o potencial de explodir e se espalhar globalmente.

 

Quais os sintomas da mpox?

 

Sintomas iniciais comuns da mpox envolvem febre, dores musculares, cansaço e linfonodos inchados. Uma característica comum da doença é o aparecimento de erupções na pele (lesões), como bolhas, que geralmente começam no rosto e se espalham para o resto do corpo, principalmente as mãos e os pés. Porém, no caso de transmissão sexual, surgem nas genitálias.

Os sintomas aparecem entre 6 e 13 dias após a contaminação, mas podem levar até três semanas da exposição para se manifestarem. Geralmente, quando a doença é leve, e os sintomas desaparecem sozinhos dentro de duas a três semanas.

 

Existem vacinas para a mpox?

 

Existem vacinas que foram desenvolvidas para a varíola tradicional que conferem uma proteção contra a mpox. Uma delas é inclusive aplicada a grupos de maior risco no Brasil, como pessoas que vivem com HIV e com contagens baixas de células de defesa.

No mundo, há duas aprovadas por outras autoridades regulatórias de referência da OMS, que são recomendadas pelo Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização da OMS, o SAGE.