Uma investigação conduzida pela Polícia Federal (PF) expôs um esquema de fraudes milionárias envolvendo o empresário José Marcos de Moura, conhecido como o "Rei do Lixo" na Bahia. Moura, preso na Operação Overclean no último dia 10, liderava uma rede de contratos fraudulentos de coleta de lixo e obras públicas que operava em 17 estados brasileiros, com fortes ligações políticas ao União Brasil.
A PF estima que o grupo tenha desviado cerca de R$ 1,4 bilhão nos últimos quatro anos, sendo R$ 800 milhões apenas em 2024. Durante a operação, foram apreendidos R$ 1,5 milhão em espécie e 50 páginas de planilhas que detalhavam contratos, valores e os nomes de gestores públicos beneficiados pelo esquema. Estados como Bahia, Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro figuram entre os principais alvos das investigações.
Conexão política e influência no União Brasil - José Marcos de Moura ocupa um posto relevante na executiva nacional do União Brasil e é apontado como próximo ao ex-prefeito de Salvador ACM Neto e ao presidente do partido, Antônio Rueda. Documentos revelaram que Moura compartilha a propriedade de um avião com a irmã de ACM Neto, Renata de Magalhães Correia, e com o ex-prefeito João Gualberto, consolidando sua presença nos círculos mais influentes do carlismo baiano.
As investigações apontam que Moura se beneficiava de contratos milionários com prefeituras governadas por aliados políticos. Sua empresa, a MM Limpeza Urbana, mantém contratos que somam mais de R$ 1,3 bilhão apenas com a prefeitura de Salvador, sendo responsável por serviços de coleta de lixo, dedetização e obras públicas.
Esquema de fraudes e lavagem de dinheiro - De acordo com a PF, as empresas de Moura faziam parte de um esquema que fraudava licitações e lavava dinheiro através de contratos superfaturados. Licitações envolvendo emendas parlamentares destinadas ao Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS) também estão sob análise.
Uma das fraudes mais emblemáticas ocorreu em Juazeiro (BA), onde mensagens obtidas pelos investigadores mostram Ana Paula Magalhães, chefe de gabinete do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), articulando a liberação de uma emenda de R$ 14 milhões para uma obra destinada à Allpha Pavimentações, ligada ao esquema.
Prisões e bloqueio de bens - Além de Moura, outras 15 pessoas foram presas preventivamente. A Justiça ordenou o bloqueio de R$ 162 milhões em bens ligados aos investigados. Os investigadores também monitoraram a tentativa de ocultação de provas antes das prisões. Moura teria fretado uma aeronave para transportar documentos e dinheiro a Brasília, o que precipitou a operação da PF.
Impacto político e desdobramentos - A operação abalou o cenário político baiano. Embora os contratos da empresa de Moura com a prefeitura de Salvador não sejam diretamente investigados, sua proximidade com figuras de destaque do União Brasil, como ACM Neto, gerou constrangimento ao partido. Correligionários temem que novas fases da operação tragam à tona mais nomes e contratos suspeitos.
Fontes ligadas à investigação acreditam que a extensão do esquema pode ser ainda maior, considerando os contratos assinados desde 2018, quando o consórcio liderado pela empresa de Moura assumiu serviços estratégicos em Salvador.