Na Universidade Federal da Bahia (Ufba), o clima de mobilização é intenso. Técnicos-administrativos, professores e estudantes unem esforços em uma greve que visa melhorias salarial e condições de trabalho, mas também denunciar o sucateamento do ensino público no Brasil. Hoje, 9h, em assembleia no Salão Nobre da Reitoria, será debatida a proposta do governo federal de reajuste 0% para 2024, além da discussão sobre a continuidade ou não da greve.
Até o momento já ocorreram duas assembleias do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (Apub) debatendo as propostas do governo federal.
Os servidores técnicos-administrativos deflagraram greve em 11 de março deste ano, já os docentes se somaram ao movimento em 25 de abril. São 2.927 professores, 51.325 estudantes e 2.918 técnicos mobilizados.
A greve tem caráter de ocupação. Nesse período, palestras, plenárias, oficinas, debates e outras atividades políticas e formativas têm sido realizadas com o objetivo de evitar o esvaziamento dos campi e fomentar a mobilização.
A greve é nacional e envolve 58 universidades e institutos federais. A proposta do governo é o repasse de
R$ 347 milhões para as federais. A categorias reivindicam 2,5 bilhões. Enfrentando cortes sucessivos e estrutura defasada, o orçamento atual da Ufba é equivalente ao de 2014, sem considerar a inflação, sendo que atualmente são 20 mil estudantes a mais do que 10 anos atrás.
O professor Carlos Zacarias, do Comando de Greve, destacou as reivindicações, apontando para a correção das perdas salariais desde 2016. “O governo nos propôs 0% de aumento em 2024, o que é um dos principais entraves. Além disso, estamos demandando um orçamento emergencial, que está muito aquém do necessário'".
Em relação à negociação com o governo federal, Zacarias destaca a falta de diálogo. “A última negociação foi insatisfatória e o governo anunciou que não se reunirá conosco enquanto a greve persistir. Isso é preocupante e contrário aos princípios democráticos que esperamos de um governo'".
As negociações têm sido tensas, o governo federal propõe um aumento salarial gradual, de 9% em 2025, e 3,5% em 2026, mas os docentes argumentam que as medidas apresentadas são insuficientes.
Os estudantes também estão se mobilizando em apoio à greve, embora o Diretório Central dos Estudantes, pois os cortes orçamentários têm efeitos diretos na qualidade do ensino e na infraestrutura da universidade. Vinícius Junqueira, membro do Centro Acadêmico de Ciências Sociais, destaca as dificuldades. “Os problemas vão desde a falta de auxílios estudantis até a precariedade das estruturas físicas. Estamos lidando com salas de aula sem climatização, ônibus lotados, falta de acessibilidade para PCDs, salas mofadas, tetos caindo, alagamentos e um número muito pequeno de refeições nos restaurantes universitários, com recorrência de casos de intoxicação alimentar.”.
Junqueira destaca as reivindicações. “A destinação de 2,5 bilhões de reais para o orçamento em 2024 pelo governo federal; a inclusão das universidades federais no Pacto de Retomada de Obras Paralisadas, além do aumento do valor unitário e montante total das bolsas de ensino, pesquisa e extensão.”
“Eu diria para aqueles que acreditam que a greve é prejudicial, que faça uma reflexão e conheça um pouco a história do que é a universidade pública no Brasil. Essa não é a primeira greve, nós tivemos mais de vinte no Brasil. As greves são indicadores de saúde da democracia e salvaram a universidade pública da extinção.”, declara Zacarias.
*Sob supervisão da editora Meire Oliveira