O anúncio, pelo governo baiano, da construção de 24 novos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e unidades de acolhimento e assistência à saúde mental na Bahia – que se somam aos 327 disponíveis hoje – é mais um reforço na rede de apoio à prevenção do suicídio, tema que voltou com força à pauta em todo o mundo por causa da pandemia de Covid-19.
De acordo com especialistas, o combate global à Covid-19 ocasionou alguns dos chamados “fatores precipitantes” para o suicídio, como isolamento social e solidão e perda de emprego e trabalhos. O produtor de eventos Raphael Santos, por exemplo, precisou de ajuda para lidar com as emoções durante o período de isolamento. “No auge da pandemia, fiquei com um nível de ansiedade muito alto por causa de todos os problemas que as medidas contra a Covid-19 trouxeram, como a falta de trabalho”, lembra.
Um ano antes da pandemia, em 2019, a Bahia havia registrado 701 casos de suicídio, segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab). O número saltou para 849 no ano passado, alta de 21%.
A psicóloga e coordenadora do Núcleo de Estudo e Prevenção do Suicídio (Neps) da Sesab, Soraya Carvalho, aponta que o suicídio costuma ser resultado de múltiplos fatores. “Temos fatores precipitantes, como a perda de emprego; fatores predisponentes, como histórias de vida que envolvam questões como abusos, e transtornos mentais”, lista. “Entre os transtornos mentais os que se apresentam mais frequentes para suicídio estão depressão, alcoolismo e esquizofrenia.”
Soraya destaca que a prevenção do suicídio deve envolver todas as pessoas próximas. “Muitas vezes, a pessoa que está com ideias suicidas precisa apenas ser escutada”, revela. “Mas a escuta tem de ser livre de julgamentos. Não devemos comparar a dor que ela está sentindo com questões de outras pessoas, muito menos dizer que o suicídio é algo como ‘falta de fé’ ou ‘falta do que fazer’.”
A psicóloga salienta que a rede de assistência pública à saúde mental deve ser apoiada pela própria rede familiar dos pacientes. “Quando a família não contribui com o acompanhamento, há uma grande chance de aumentar o risco de suicídio”, aponta. “É preciso estar atento ao entorno, aos sinais que as pessoas dão. Por vezes, os sintomas de que algo não vai bem são sutis, difíceis de notar. Entre as pessoas que apresentam depressão grave, o índice de suicídios é alto, chega a 20% dos casos, então a ajuda da família é essencial para a assistência.”
Valorizando a Vida
Com atendimento voluntário por telefone, chat e e-mail, o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviço voluntário e gratuito de prevenção do suicídio e apoio emocional para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Os mais de 3,4 milhões de atendimentos de 2022 foram realizados por cerca de 3,5 mil voluntários em cerca de 100 postos de atendimento.
A porta-voz do CVV Salvador, Josiana Rocha, conta que os voluntários que atuam no serviço são pessoas que estão dispostas a escutar. Foi com uma delas que o produtor de eventos Raphael Santos conseguiu ficar mais tranquilo para atravessar a pandemia. “No auge do isolamento, eu não conseguia nem mesmo dormir”, lembra. “Foi com o atendimento do CVV que consegui ter um alento para continuar a luta.”
Fonte: A Tarde